
O PROJETO PERDIDO
1924-1930
Durante a Revolução Tenentista de 1924, o Solar do Marques de Três Rios, sofreu grandes danos, e foi decidida sua demolição em 1929 , para construção de um novo edifício no lugar.

ORIGEM
A Revolução de 1924, foi o estopim para que se encerrasse a vida deste edifício como ele era conhecido, efetivando assim, em 1929 a sugestão dada por Luiz Inácio Romeiro de Anhaia Mello, quando Dr. Rodolpho Baptista de San Thiago estava em seu segundo ano de mandato como diretor da Escola Politécnica, e solicitou a demolição do Solar, para o Presidente do Estado, Júlio Prestes, assim como, a execução do projeto de um novo edificio, para ocupar o mesmo local onde ficava o Solar.
Dr. Alexandre Albuquerque (posteriormente diretor da POLÍ) em parceria com Dr. Nicolau Henrique Longo, realizaram o projeto do prédio, que pretendia acomodar a sede administrativa da Escola Politécnica, sendo ocupado majoritariamente pela biblioteca.
Apesar desse prédio nunca ter sido executado, é relevante analisá-lo como referência, para se compreender como as soluções, tecnologias e metodologias arquitetônicas haviam variado, e evoluído desde o antigo Solar do Marquês de Três Rios, e os demais projetos da instituição, até se chegar na solução do projeto adotada no atual edifício Santiago.
ASPECTOS ARQUITETÔNICOS
"O edifício consta de um res-do-chão e de três andares altos. No res-do-chão ficaram instaladas diversas dependências da biblioteca, o Archivo geral e salas para associações escolares.
O andar baixo é dividido em duas secções. Na ala direita estão distribuídos os salões da Biblioteca, salas de leitura e gabinete do bibliothecario. Na ala esquerda, a portaria, a secretaria e gabinetes para Secretário, diretor e Professores.
O andar alto é destinado as salas de desenho. O projecto prevê a possibilidade de algumas destas salas serem transformadas em dependências da biblioteca, em futuro não muito remoto.
No terceiro piso há um amphitheatro para prelecções da cadeira de Topographia, astronomia e Geodesia [...]
A parte architectonica foi tratada com grande liberdade, considerando a technica do material e o destino do prédio. As columnas de concreto armado atingem a parte inferior do eirado da cobertura, e este avança em balanço a feição de cornija, para proteger o paramento das paredes contra a acção da chuva e humidade. No res-do-chão as columnas são de granito rosco polido, assim como as duas pilastras formando os três particos de ingresso.” (ALBUQUERQUE, 1930, REVISTA POLITÉCNICA)
É interessante também analisar que naquela época, Alexandre e Nicolau, já pretendiam utilizar concreto armado na construção do edifício, e ao mesmo tempo que no Rio de Janeiro o arquiteto Lúcio Costa, inspirado pelas teorias de Le Corbusier, levantava opiniões defendendo a arquitetura moderna e o uso da “nova técnica” - como ele chamava o concreto armado -, assim como o surgimento da Escola de Concreto Armado no Brasil.
Nos desenhos das fachadas, do edifício projetado em 1929, é possível notar que ele possui linhas mais sóbrias e despojadas, mostrando a introdução da arquitetura moderna, porém mantém ainda referências do estilo eclético (mistura de estilos arquitetônicos do passado – até século XVIII - para a criação de uma nova linguagem arquitetônica), e neoclássico com as colunas e esculturas, que aparentam se tratar da deusa Minerva, a deusa da sabedoria, nas escadarias.
Esse tipo de edifício poderia ser descrito como um perfeito exemplo da “pseudo-arquitetura” apresentada por Lucio Costa, em “Razões da Nova Arquitetura”, que apresenta a década de 1930 como um período de transição na evolução da arquitetura, em que todo projeto arquitetônico feito nesta época não era nem eclético, e nem mesmo moderno.
"As construções atuais refletem, fielmente, em sua grande maioria, essa completa falta de rumo, de raízes. Deixemos, no entanto, de lado essa pseudoarquitetura, cujo único interesse é documentar [...] porque, ao lado dela existe, já perfeitamente constituída toda uma nova técnica construtiva paradoxalmente ainda à espera da sociedade à qual, logicamente, deverá pertencer." (COSTA, (1936) 2007, p.18).

ASPECTOS TECNOLÓGICOS
Ainda partindo do ponto de vista de Lucio quanto à aplicação da “nova técnica”, essa transição não se tratava apenas de se deixar a “antiga arquitetura” para traz por questões estéticas, mas porque o concreto armado exigia, e com a possibilidade de estruturas independentes, certas formas que contribuiriam anteriormente para estabilidade das estruturas, passariam agora a ser apenas ornamentais. Portanto, para evoluir tecnologicamente no sistema construtivo era necessário evoluir também arquitetonicamente, de modo que ciência passa a prevalecer a estética.
"A nova técnica reclama a revisão dos valores plásticos tradicionais. O que a caracteriza e, de certo modo, comanda a transformação radical de todos os antigos processos de construção – é a ossatura independente." (COSTA, (1936) 2007, p.27)
Pode-se dizer então que prédio projetado por Alexandre Albuquerque e Nicolau Henrique Longo, apesar de não efetivado, tem certa inspiração na era da arquitetura moderna, abrindo essa época de transição, e assim sendo um reflexo das observações colocadas por Lucio Costa.
GALERIA
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